Friday, June 25, 2010

De Detroit – 3º dia do Forum Social

Por Heloisa Maria Galvão

Vocês já imaginaram 20 mil pessoas de todos os estados dos Estados Unidos e até de alguns países, como o Brasil, circulando em um espaço grande mas não enorme? A energia que emana de toda esta gente é eletrizante.

Hoje à tarde houve uma demonstração com dança no andar térreo. De repente, um grupo com aventais de plástico por cima da roupa começou a dançar. Eu, infelizmente, não entendi a mensagem que tentavam passar. Mas logo atrás veio um urso polar enorme – desculpem o pleonasmo – com olhos ternos e um jeitinho de filhote desmamado, ganhou os corações presentes. Uma mãe colocou o filhinho de um ano para ver o urso; outros queriam saber como ele se sente diante da ameaça do aquecimento da Terra. Foi o barato da tarde.

O Forum Social é uma lição de inclusão. Tudo que é feito, é feito em várias línguas, inclusive português, mas o espanhol e o inglês são falados simultaneamente. Se eu não fosse brasileira e não entendesse e falasse portunhol, ia ter de andar para cima e para baixo com aqueles aparelhos de tradução simultânea.

Até os filmes têm tradução simultânea. Por falar em filme, o grande hit da noite desta quinta-feira, além da celebração dos 95 anos da ativista comunitária local Grace Lee Boggs, foi o filme de Oliver Stone “South of the Border”.

Grace, filha de imigantes chineses, luta pelos direitos civis e humanos há mais de 50 anos. Tem estado em vários painéis e é mais lúcida e faz mais sentido do que diz do que muita gente que tem 1/3 da idade dela.

Feminista, ela aprendeu muito cedo que somente uma mudança poderia salvar o mundo: “Quando eu nasci, minha mãe foi dita para me abandonar nas Colinas para morrer porque eu era mulher”.

O filme de Oliver Stone, ainda inédito, é um documentário sobre Hugo Chavez e a América Latina porque o diretor conseguiu entrevistar todos os presidentes, de Lula a Evo Morales a Eduardo Correa a Raul Castro.

Desde que moro nos Estados Unidos nunca estive em um ambiente tão completamente lotado. O cinema, com capacidade para umas 300 pessoas, tinha pelo mesmo o dobro. Segurança e medo de processo, tão típicos da cultura norte-americano, ficaram para trás nesta noite.

Só uma mulher de uns 70 anos levantou-se e sugeriu que as pessoas em excesso fossem retiradas por questão de segurança.

Ela lembrou o incêndio no clube Station, em Providence. Um dos coordenadores do evento, no entanto, sentindo que a plateia discordava, disse que quem conseguisse um lugar no chão, tinha direito de ficar. A audiência vibrou e mais gente entrou. Até o palco foi tomado.

O documentário de uma hora e meia teve a participação ativa dos presentes, que se manifestavam contra ou favor dependendo de quem aparecia na tela. O ex-presidente Bush e seus auxiliares eram sempre motivo de risos e chacotas, enquanto Chaves, Lula, Morales e Correa recebiam hurras, aplausos e vivas em uníssimo.

Amanhã de manhã, o drama é que no mesmo horário do jogo do Brasil, tem um workshop sobre economias de base que todo mundo quer assistir.

Quem vai ganhar a preferência dos brasileiros: a responsabilidade social ou a Seleção?

De Detroit – 2º dia do Forum Social

Por Heloisa Maria Galvão

Com o clima anti-imigrante e anti-povo que domina os Estados Unidos, Detroit é o lugar para estar. A energia que circula aqui dá para levantar a moral de multidões.

Umas atrás das outras, mulheres e homens, desfilam diante do microfone em um dos 130 workshops, que acontecem simultaneamente, para denunciar casos de abuso e perseguição e sobretudo partilhar experiências vitoriosas.

Um grupo de trabalhadores da India, por exemplo, disse que, cada um, pagou $20 mil pelo “direito” de trabalhar nos Estados Unidos e a promessa de green card. Logo após a chegada descobriram que o visto de trabalho que tinham era uma arma dos patrões para ameaçá-los de deportação e explorá-los. Os indianos não se submeteram e hoje continuam trabalhando legalmente nos Estados Unidos e em firmas mais honestas.

A mexicana Claudia Reyes falou sobre o desafio para conseguir que a Califórnia aprove a Carta de Direitos das Trabalhadoras Domésticas. A luta vem desde 2004 quando cerca de 30 mulheres reunidas em assembléia criaram a Associação das Trabalhadoras Domésticas de San Francisco Bay. Na mesma época, uma pesquisa mostrou que:

54% das trabalhadoras sustentavam a familia
90% das trabalhadoras eram imigrantes
50% sofriam algum tipo de violência no trabalho, como abuso sexual
95% não tinham seguro
90% não recebiam overtime

Afinal, em 2006, as trabalhadoras conseguiram que senadores e deputados estaduais aprovassem a Carta dos Direitos mas, quando a lei chegou na mesa do Governador Schwarzenegger, foi vetada.

As mulheres não desistiram e continuam na luta pela aprovação da Carta. Taticamente, esperam as eleições no segundo semestre, quando Schwarzenegger vai sair, para reentroduzir a Carta.

As histórias não param ai, tem o caso das empregadas nepalenses que tomam conta de idosos, 7 dias por semana, 17 horas por dia, salário de $180/semana. E ainda são obrigadas a comprar sua própria comida para não ficarem com fome.

Carlos, de Chicago, denunciou os “abusos da policia e contra os indocumentados”. Ezequiel Falcon, 28, mexicano e diarista em New Orleans, trabalha com um brasileiro chamado Rubens. A exploração mais comum, conta, “é o roubo de salário. Trabalhamos o dia todo e o patrão não paga. Não adianta reclamar, pois o patrão mente que invadimos a casa dele e vamos presos”.

Sob gritos de workers’ power, El pueblo unido jamas será vencido e Si se puede, as mais de 300 pessoas reunidas em um workshop sobre “Trabalhadores Excluidos” se energizam com o coral das mulheres do grupo Domestic Workers United de Nova York. “Fight, fight for the Bill of Rights”, diz o refrão.

- Qual o nome da canção?, pergunto à lider do coral
- Surpresa, ela coça a cabeça e diz: DWU Calipso.

Além das histórias de luta, música é o que mais se ouve no Forum Social. As trabalhadoras e os trabalhadores cantam de peito aberto e, quando o fazem, a energia flui e transborda por todas as salas e corpos.

O workshop sobre Os Excluídos durou quatro horas e foi encerrado com o refrão:
“I am an endangerous species
But I sang no victims song
I am a woman, I am an artist and I know
Where my voice belongs”.

Wednesday, June 23, 2010

Primeiro dia do Forum Social dos Estados Unidos

A manhã de terça-feria começou com assembléia da Associação Nacional das Trabalhadoras Domésticas em um salão do basement do Hotel Double Tree. Mais de 100 trabalhadoras se reuniram para trocar experiências de luta e o programa da Convenção de Geneva, que acabou de acontecer na Suiça.
Durante todo o dia fala-se muito no que está acontecendo no Arizona. Uma mulher levantou-se e pegou o microfone para dizer que as trabalhadoras do Arizona estão com medo até de ir às compras. “Nossas companheiras estão sofrendo muito. Temos de apoiá-las e lutar por elas”. Durante a manhã, em um grupo de trabalho, falei do que se passa em Massachusetts, da emenda que transita na State House com medidas duras contra os imigrantes. Algumas pessoas ficaram boquiabertas.
À noite, na festa de comemoração dos três anos de criação da Aliança Nacional de Trabalhadoras Domésticas, no entanto, chegou uma notícia alvissareira: na quarta-feira, 23, o governador de Nova York vai se reunir com os senadores estaduais para discutir a Carta de Direitos das Trabalhadoras Domésticas.
Quando o anúncio foi feito, o auditório veio abaixo com toda a razão. Se passar, e tudo indica que vai passar, Nova York terá a primeira Carta de Direitos das trabalhadoras Domésticas em toda a história dos Estados Unidos.

Em Detroit na véspera do Forum Social dos Estados Unidos

A entrada em Detroit não podia ser mais triunfal. Fomos recebidas com fogos de artifício. Muitos fogos. Era o “4th de July” adiantado, nos foi dito. O dia primeiro de julho marca o dia em que Canada celebra todas as suas províncias e a tradição manda que seja uma festa conjunta com os vizinhos de fronteira. Foram 25 minutos de fogos pipocando, uma beleza!
De onde estamos, downtown, Detroit parece uma cidade sem graça e morta às 3 da tarde. O Forum Social, que abre na noite de terça-feira, dia 22, com seus 20 mil participantes, é que vai dar vida à cidade.
Detroit não tem café, nem água com gás. Andei quase uma hora e foi impossível achar uma coffee house. Expresso, então, nem pensar. O único lugar que dizem serve um expresso é uma lanchonete no hotel onde estamos hospedadas, que fecha as 4:30 da tarde. A água mineral com gás achei no bar do hotel. Por $5!

GMB no Forum Social dos Estados Unidos - BWG in the U.S. Social Forum

O Grupo Mulher Brasileira no Forum Social dos Estados Unidos

O Grupo Mulher Brasileira e a Cooperativa de Mulheres Vida Verde marcharam nesta terca-feira, dia 22 de junho, em Detroit, ao lado de mais de 7 mil pessoas na abertura do Forum Social dos Estados Unidos. O Grupo Mulher Brasileira uniu-se à Aliança Nacional de Trabalhadoras Domésticas na luta pelos direitos dos trabalhadores e contra a injustiça. Siga os relatos do GMB e da Cooperativa de Mulheres Vida Verde sobre a agenda do Forum Social aqui, no Facebook, Twitter e Orkut.


The Brazilian Women’s Group in the U.S. Social Forum

The Brazilian Women’s Group and the Vida Verde Women’s Cooperative marched this Tueday, June 22nd, 2010, in Detroit, along with over 7,000 people in the opening of the United States Social Forum. The BWG joined the National Domestic Workers Alliance in the fight for workers’ rights and in the struggle against injustice. Follow the BWG and Vida Verde Women’s Coop reports on the Social Forum agenda here, Facebook, Twitter and Orkut.