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Aaron Litvin, coordenador do Estudos sobre o Brasil na Harvard, apresenta alunos a professores. Abaixo,
o vice-cônsul do Brasil em Boston, Fernando Igreja, revela o tamanho da comunidade brasileira; o calouro
Eric Westphal é a nova cara imigrante na Harvard, e Preston So, americano apaixonado pelo Brasil.
Fotos: Eduardo de Oliveira
O talento do nosso povo marcou presença durante a recepção de boas-vindas aos calouros brasileiros da Universidade Harvard.
E já se foi o tempo em que o perfil brasileiro nessa elite estudantial (a Harvard foi eleita pelo Ranking Nacional de Universidades como a melhor universidade dos EUA) era formada apenas por filhos de políticos, pelos ricos e influentes. Hoje, a nova cara tem mais caraterísticas imigrantes.
Enquanto Aaron Litvin, coordenador-geral dos Estudos Sobre o Brasil no Centro David Rockerfeller para Estudos Latino Americanos, trocavam memórias sobre o Brasil com recém-chegados, alguns doutorandos e professores saboreavam coxinhas feitas por restaurantes brasucas de Cambridge.
“Sejam bem-vindos à comunidade. É importante ue vocês saibam que fica aqui em Massachusetts a maior comunidade de brasileiros fora do Brasil. São cerca de 350 mil brasileiros na região Nova Inglaterra, e 220 mil em Massachusetts,” disse o ministro Fernando Igreja, vice-cônsul do Brasil em Boston.
Entre todos esses imigrantes está Eric Westphal, catarinense que se mudou para os EUA aos 11 anos, e hoje representa o novo perfil do talento aceito na melhor universidade do mundo.
Para ser admitido em Harvard, Westphal aconselha, “faça além daquilo que é esperado de você. Se destaque, porque outras 30 mil pessoas (na verdade, são 19 mil candidatos) tentarão conquistar a mesma vaga.”
Aos 19 anos e casado com uma americana, Westphal começa a pensar em seguir carreira como economista. Mas confessa que o “trabalho dos sonhos mesmo” seria representar o Brasil na ONU.
Mas que o leitor não se engane. Westphal estudou muito para manter uma média de 9.4 em todos os anos do segundo grau. Ele admite que pode ser um produto do affirmative action (política voluntária de reserva de cotas para minorias raciais), mas não tem vergonha disso.
“Sinto um pouco que se não fosse essa minha história de latino, e imigrante, não estaria aqui. Mas não faço apologia a isso. Se eu tivesse nascido americano teria outros benefícios, eu tive que batalhar mais,” disse Westphal.
A noite de confraternização trouxe supresas - tem americano que vivem como imigrantes. Veja o exemplo de Preston So: americano, filho de sul-coreanos, nascido em Idaho, morador do Colorado, calouro em Harvard, é cruzeirense por opção e brasileiro de coração.
Uma instrutora da força aérea levou uns cadetes para passear em Minas Gerais, e So foi convidado a ir junto. O que ele mais gosta sobre o Brasil: a comida e as pessoas.
“Em Montes Claros, se você visita a casa de uma pessoa (estranha), ela te convida para jantar. Isso me surpreendeu bastante. Foi muito legal,” disse So, com um sorriso aberto, que iluminava sua camisa celeste do Cruzeiro.
Paixões brasucas à parte, tem muito brasileiro estudando coisa séria em Harvard. A carioca Joana Machado acabou de retornar de duas favelas no Rio de Janeiro, onde pesquisou os efeitos do tráfico de drogas nas escolas locais. Já a paulistana Daniela Souza Egorov avaliou projetos para preparar melhor os estudantes no ensino médio no Brasil para reduzir o índice de desistência nos cursos de ciências exatas.
“As pessoas chegam na faculdade muito mal preparadas e não conseguem acompanhar os cursos que são mais puxados,” disse Daniela, que hoje trabalha no departamento de planejamento estratégico do departamento de ensino público de Boston. Ela tem a missão de ajudar a reconfigurar o ensino nas escolas da cidade.
Daniela confessou ao blogueiro qual é seu “grande projeto para o Brasil.”
“Aqui tem uma demanda muito grande por educação. Gostaria de ver no Brasil um movimento de reforma da educação, mas lá as pessoas nem sabem ainda que seja possível,” disse ela, convicta de que a reforma educacional acontecerá ainda durante a sua geração.
Outro brasileiro que faz planos em aplicar no Brasil tudo o que aprender em Harvard, é Adilson José Moreira, doutorando em Direito – um talento de Belo Horizonte. Moreira estuda a relação entre Direito e racismo.
“Nos EUA, o racismo tinha como objetivo manter os benefícios econômicos e sociais nas mãos dos brancos. No Brasil, o racismo é diferente. Ele opera através da negação dele próprio e a atribuição das desigualdes sociais como problemas de classes. Por isso, as autoridades não fazem nada a respeito, e esse problema nunca é debatido e nem faz parte de políticas públicas,” disse Moreira, que é especialista em Direito Constitucional.
Para Moreira, no Brasil negros pobres e ricos não são tratados da mesma maneira que brancos pobres e ricos.
“Hoje no Brasil existem vários estudos que mostram que o homem negro ganha 50% a menos que o homem branco, e a mulher ganha 75% a menos, apesar de terem a mesma qualificação,” disse ele.
Olhando o passo gingado e a fala maneira do paraibano Pedro Henrique de Cristo, você não imagina que esteja diante de um grande articulador de mudanças sociais. Pelo menos é assim que ele se descreve ao blogueiro.
Mas Cristo faz pesquisa de novas políticas de segurança pública em quatro favelas do Rio de Janeiro: Maré, Rocinha, Cidade de Deus e Santa Marta.
“Hoje queremos evitar que aconteça no Rio, durante a Copa de 2014 e as Olimpíadas de 2016, o mesmo que aconteceu durante a Eco 92, que foi cercar a zona sul e não trazer nenhum benefício para os moradores das outras áreas do Estado. Porque cerca de 1 milhão de pessoas moram nas favelas do Rio,” disse Cristo.
Quando ele disse que pretende seguir carreira política no Brasil, o blogueiro foi direto: mas como você pretende resistir às tentações de um cargo público.
“Tem gente que pretende fazer dinheiro, eu pretendo fazer História,” disse ele.
O primeiro passo dessa ‘história’, todos os calouros já deram: eles ingressaram numa das melhores universidades do mundo. Agora, o blogueiro vai acompanhar alguns deles para saber o que eles – o Brasil – ganharão com isso.
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