Friday, May 8, 2009

Opinião - Estados europeus desalmados

Leonardo Boff

A "Diretiva do Retorno", também chamada de "Diretiva da Deportação ou da Vergonha" da Comunidade Européia acerca dos extracomunitários ilegais desmascara uma faceta desumana que a cultura européia sempre teve e que dificilmente consegue disfarçar. É uma cultura identitária. Possui dificuldade imensa de conviver com o diferente. Ou o agregou, ou o submeteu ou o destruiu. Invadiu praticamente todo o mundo conhecido, subjugando e matando com a cruz e a espada. Foi ela que, nos primórdios da modernidade, provocou o maior genocídio da história humana, segundo o historiador Oswald Splengler em seu O declínio do Ocidente. Onde na América Latina havia 23 indígenas, diz-nos o antropólogo Darcy Ribeiro, após um século, restou apenas um. Depois dominou as populações restantes, explorou todos os recursos naturais possíveis que serviram de base para a industrialização e seu enriquecimento, que são suas injustas vantagens até os dias de hoje. Atrás de seus feitos!
comerciais e técnicos,
há rios de sangue, de suor e de lágrimas. É uma cultura montada sobre o poder-dominação.
Agora, passando por cima de vários artigos da Declaração dos Direitos Humanos de 1948 (quando foi que a respeitaram?) maltratam imigrantes, consideram-nos criminosos a serem encarcerados, mesmo menores, sem precisar de mandado judicial, apenas mediante um procedimento administrativo. Prevêem-se campos de concentração para eles. Esses imigrantes escondem tragédias em suas vidas. Estão lá porque querem sobreviver e ajudar a suas famílias que deixaram em seus países.
Vejam a contradição: no século 19 os sobrantes do processo de industrialização europeu, aqueles que poderiam desestabilizar o capitalismo selvagem nascente, previsto por Marx, foram destinados à exportação. Não veio qualquer tipo de gente. Tinham primazia os empobrecidos e os doentes, como meus avós italianos. Todos de sua leva eram acometidos de tracoma, na época de difícil cura. Eu mesmo quando criança passei por esta doença bem como todos de nossa região no interior de Santa Catarina, onde se situa hoje a Sadia e a Perdigão, conhecidas por seus bons produtos.
No Brasil foram acolhidos com generosidade. Ganharam terras, ajudaram a construir esta nação e agora, com a riqueza natural com que Deus nos galardou, podemos ser a mesa posta para as fomes do mundo inteiro. As políticas da Comunidade Européia de hoje não mostram nenhuma reciprocidade. Com ações articuladas, se revelam cruéis e sem piedade. Relata-nos o príncipe de nossos jornalistas, Mauro Santayana, no JB de 22/06, que nos anos 80 economistas e sociólogos norte-americanos e europeus, sob o patrocínio de banqueiros, concluíram que era necessário afastar do consumo 4/5 da humanidade, a fim de garantir a gestão do planeta e manter os privilégios dos 20% de ricos. Os demais deveriam ser marginalizados até a sua extinção.
Parece que o genocídio está inscrito no código genético deste tipo de gente que está por detrás de quase todas as guerras dos últimos séculos. A eles que gostam de cultura como pura ilustração lhes recordo o que Immanuel Kant diz em sua A paz perpétua (1795). A primeira virtude de uma república mundial é a "hospitalidade geral", como direito e dever de todos. Todos estão sobre o planeta Terra, diz ele, e têm o direito de visitar suas regiões e seus povos, pois a Terra pertence comunitariamente a todos.
Só espíritos anticultura ocidental, como Francisco de Assis, João XXIII, Luther King e Madre Teresa podem oferecer um paradigma que resgate e salve estes governos da maldição da vida e da ira divina que pairam sobre ele.




Sunday, May 3, 2009

A agonia dos imigrantes na volta para o Brasil


Medo, incerteza, desprezo, frustração, saudade. Essas palavras ganharam peso na vida de brasileiros que foram morar no exterior em busca de melhores condições de vida e tiveram os planos atropelados pela crise mundial. O desemprego e a pobreza entre os imigrantes nos EUA, na Europa e no Japão vêm transformando o Brasil no destino de muitos deles, que, sem perspectivas lá fora, estão voltando para casa.

A reportagem é e Camila Nobrega e publicada pelo jornal O Globo, 26-04-2009.

Segundo a Polícia Federal, pela primeira vez em anos, o número de brasileiros que chegam à terra natal supera o registro de saídas.

De novembro de 2007 a março de 2008, 78,61% dos registros eram referentes às saídas de brasileiros, e 21,39% correspondiam às chegadas.

Mas, de novembro de 2008 a março de 2009, 51,26% dos registros foram de entradas, e as saídas caíram para 48,67%.

Alline Galo e Rodrigo Seabra não tinham planos de retornar agora. Mas, após oito anos na Espanha, estão perdendo os empregos e voltarão em maio:

— O sonho acabou. Meu marido está desempregado há três meses e eu trabalho numa loja que fechará em 30 de abril. Estamos vendo se pedimos a ajuda do governo espanhol. Após tanta luta para conseguir o visto de permanência, sinto-me desprezada.

Entre janeiro e fevereiro, pelo menos 200 brasileiros retornaram com a ajuda do programa de repatriamento de imigrantes lançado pelo governo espanhol, em novembro de 2008. A procura também tem sido grande na Organização Internacional para as Migrações (OIM): o Brasil lidera o ranking de pedidos de repatriamento.

Em 2008, dois mil brasileiros voltaram para casa com o auxílio da organização. Mas, até março de 2009, os benefícios concedidos pela OIM já se aproximavam do número total de 2008. A OIM estima que 6 mil brasileiros devem procurar auxílio este ano.

Brasileiros desempregados na Espanha chegam a 21,26% Mas a maioria dos imigrantes retorna por conta própria, por causa da burocracia dos processos de repatriamento. É o caso de Tsuyoshi e Clyssia Momonuki. Eles moravam no Japão, mas foram demitidos no início de março.

— Voltamos sem emprego ou reserva financeira e com uma filha de seis meses para criar — diz Tsuyoshi.

Segundo Eduardo Gradilone, diretor do Departamento Consular e de Brasileiros no Exterior, do Ministério das Relações Exteriores, os pedidos de Autorização para Retorno ao Brasil (ARB) passaram de 12.395 em 2007 para 15.142 em 2008, alta de 22%. Em 2009,o número deve ser maior:

— A ARB é para imigrantes que estão sem passaporte, irregulares.

Sobre repatriações, a Espanha nos preocupa, porque oferece ajuda até para quem tem emprego.

Os pais e a irmã de Alex Hiroshi foram demitidos no Japão e voltaram para o Brasil em março.

— Eu vim para ficar alguns meses, mas não posso voltar ao Japão — conta.

O programa de repatriamento do governo japonês foi lançado há menos de um mês, mas 162 famílias brasileiras fizeram o pedido e centenas assistem às palestras diárias sobre os benefícios.

Segundo a Embaixada do Brasil em Tóquio, os brasileiros desempregados são mais de 40 mil (12% do total). Nos Estados Unidos, o número chega a 100 mil (8%), e na Espanha são 26 mil (21,26%).

Sem opções de emprego na Holanda, Maria Bethânia Santos voltou ao Brasil em janeiro:

— Estou terminando doutorado e não conseguia nem emprego para ensino superior. Meu marido, que é holandês, também vai recomeçar a vida no Brasil.

Mas há quem prefira esperar a situação melhorar, como a brasileira Bárbara Eesa, que também mora na Holanda:

— Ano passado, grávida, recusei ótimas propostas de trabalho, agora só há serviço doméstico, quando há.

http://www.unisinos.br/_ihu/index.php?option=com_noticias&Itemid=18&task=detalhe&id=21746