Sunday, May 3, 2009

A agonia dos imigrantes na volta para o Brasil


Medo, incerteza, desprezo, frustração, saudade. Essas palavras ganharam peso na vida de brasileiros que foram morar no exterior em busca de melhores condições de vida e tiveram os planos atropelados pela crise mundial. O desemprego e a pobreza entre os imigrantes nos EUA, na Europa e no Japão vêm transformando o Brasil no destino de muitos deles, que, sem perspectivas lá fora, estão voltando para casa.

A reportagem é e Camila Nobrega e publicada pelo jornal O Globo, 26-04-2009.

Segundo a Polícia Federal, pela primeira vez em anos, o número de brasileiros que chegam à terra natal supera o registro de saídas.

De novembro de 2007 a março de 2008, 78,61% dos registros eram referentes às saídas de brasileiros, e 21,39% correspondiam às chegadas.

Mas, de novembro de 2008 a março de 2009, 51,26% dos registros foram de entradas, e as saídas caíram para 48,67%.

Alline Galo e Rodrigo Seabra não tinham planos de retornar agora. Mas, após oito anos na Espanha, estão perdendo os empregos e voltarão em maio:

— O sonho acabou. Meu marido está desempregado há três meses e eu trabalho numa loja que fechará em 30 de abril. Estamos vendo se pedimos a ajuda do governo espanhol. Após tanta luta para conseguir o visto de permanência, sinto-me desprezada.

Entre janeiro e fevereiro, pelo menos 200 brasileiros retornaram com a ajuda do programa de repatriamento de imigrantes lançado pelo governo espanhol, em novembro de 2008. A procura também tem sido grande na Organização Internacional para as Migrações (OIM): o Brasil lidera o ranking de pedidos de repatriamento.

Em 2008, dois mil brasileiros voltaram para casa com o auxílio da organização. Mas, até março de 2009, os benefícios concedidos pela OIM já se aproximavam do número total de 2008. A OIM estima que 6 mil brasileiros devem procurar auxílio este ano.

Brasileiros desempregados na Espanha chegam a 21,26% Mas a maioria dos imigrantes retorna por conta própria, por causa da burocracia dos processos de repatriamento. É o caso de Tsuyoshi e Clyssia Momonuki. Eles moravam no Japão, mas foram demitidos no início de março.

— Voltamos sem emprego ou reserva financeira e com uma filha de seis meses para criar — diz Tsuyoshi.

Segundo Eduardo Gradilone, diretor do Departamento Consular e de Brasileiros no Exterior, do Ministério das Relações Exteriores, os pedidos de Autorização para Retorno ao Brasil (ARB) passaram de 12.395 em 2007 para 15.142 em 2008, alta de 22%. Em 2009,o número deve ser maior:

— A ARB é para imigrantes que estão sem passaporte, irregulares.

Sobre repatriações, a Espanha nos preocupa, porque oferece ajuda até para quem tem emprego.

Os pais e a irmã de Alex Hiroshi foram demitidos no Japão e voltaram para o Brasil em março.

— Eu vim para ficar alguns meses, mas não posso voltar ao Japão — conta.

O programa de repatriamento do governo japonês foi lançado há menos de um mês, mas 162 famílias brasileiras fizeram o pedido e centenas assistem às palestras diárias sobre os benefícios.

Segundo a Embaixada do Brasil em Tóquio, os brasileiros desempregados são mais de 40 mil (12% do total). Nos Estados Unidos, o número chega a 100 mil (8%), e na Espanha são 26 mil (21,26%).

Sem opções de emprego na Holanda, Maria Bethânia Santos voltou ao Brasil em janeiro:

— Estou terminando doutorado e não conseguia nem emprego para ensino superior. Meu marido, que é holandês, também vai recomeçar a vida no Brasil.

Mas há quem prefira esperar a situação melhorar, como a brasileira Bárbara Eesa, que também mora na Holanda:

— Ano passado, grávida, recusei ótimas propostas de trabalho, agora só há serviço doméstico, quando há.

http://www.unisinos.br/_ihu/index.php?option=com_noticias&Itemid=18&task=detalhe&id=21746

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