Friday, June 25, 2010

De Detroit – 2º dia do Forum Social

Por Heloisa Maria Galvão

Com o clima anti-imigrante e anti-povo que domina os Estados Unidos, Detroit é o lugar para estar. A energia que circula aqui dá para levantar a moral de multidões.

Umas atrás das outras, mulheres e homens, desfilam diante do microfone em um dos 130 workshops, que acontecem simultaneamente, para denunciar casos de abuso e perseguição e sobretudo partilhar experiências vitoriosas.

Um grupo de trabalhadores da India, por exemplo, disse que, cada um, pagou $20 mil pelo “direito” de trabalhar nos Estados Unidos e a promessa de green card. Logo após a chegada descobriram que o visto de trabalho que tinham era uma arma dos patrões para ameaçá-los de deportação e explorá-los. Os indianos não se submeteram e hoje continuam trabalhando legalmente nos Estados Unidos e em firmas mais honestas.

A mexicana Claudia Reyes falou sobre o desafio para conseguir que a Califórnia aprove a Carta de Direitos das Trabalhadoras Domésticas. A luta vem desde 2004 quando cerca de 30 mulheres reunidas em assembléia criaram a Associação das Trabalhadoras Domésticas de San Francisco Bay. Na mesma época, uma pesquisa mostrou que:

54% das trabalhadoras sustentavam a familia
90% das trabalhadoras eram imigrantes
50% sofriam algum tipo de violência no trabalho, como abuso sexual
95% não tinham seguro
90% não recebiam overtime

Afinal, em 2006, as trabalhadoras conseguiram que senadores e deputados estaduais aprovassem a Carta dos Direitos mas, quando a lei chegou na mesa do Governador Schwarzenegger, foi vetada.

As mulheres não desistiram e continuam na luta pela aprovação da Carta. Taticamente, esperam as eleições no segundo semestre, quando Schwarzenegger vai sair, para reentroduzir a Carta.

As histórias não param ai, tem o caso das empregadas nepalenses que tomam conta de idosos, 7 dias por semana, 17 horas por dia, salário de $180/semana. E ainda são obrigadas a comprar sua própria comida para não ficarem com fome.

Carlos, de Chicago, denunciou os “abusos da policia e contra os indocumentados”. Ezequiel Falcon, 28, mexicano e diarista em New Orleans, trabalha com um brasileiro chamado Rubens. A exploração mais comum, conta, “é o roubo de salário. Trabalhamos o dia todo e o patrão não paga. Não adianta reclamar, pois o patrão mente que invadimos a casa dele e vamos presos”.

Sob gritos de workers’ power, El pueblo unido jamas será vencido e Si se puede, as mais de 300 pessoas reunidas em um workshop sobre “Trabalhadores Excluidos” se energizam com o coral das mulheres do grupo Domestic Workers United de Nova York. “Fight, fight for the Bill of Rights”, diz o refrão.

- Qual o nome da canção?, pergunto à lider do coral
- Surpresa, ela coça a cabeça e diz: DWU Calipso.

Além das histórias de luta, música é o que mais se ouve no Forum Social. As trabalhadoras e os trabalhadores cantam de peito aberto e, quando o fazem, a energia flui e transborda por todas as salas e corpos.

O workshop sobre Os Excluídos durou quatro horas e foi encerrado com o refrão:
“I am an endangerous species
But I sang no victims song
I am a woman, I am an artist and I know
Where my voice belongs”.

No comments: